4 de novembro de 2008

Açores: Projecto consegue duplicar número de priolos


Cinco anos e 2,8 milhões de euros depois, um projecto ambiental conseguiu duplicar o número de priolos, uma das aves mais ameaçadas do mundo e que apenas existe na ilha de São Miguel, nos Açores.
«Todos os dados apontam para que o declínio da espécie tenha sido travado. Mas claro que se trata de uma população muito pequena, de poucas centenas de indivíduos de população mundial que só existe» numa zona de São Miguel, disse Joaquim Teodósio, que coordenou o projecto para salvar a espécie.
Apesar do optimismo numa altura em que termina o LIFE Priolo, promovido pela Sociedade Portuguesa para o Estudo das Aves (SPEA), Joaquim Teodósio alertou, porém, que em causa está uma ave selvagem, que está sujeita a flutuações próprias da natureza.
Directamente, estiveram envolvidos cerca de 200 pessoas, entre parceiros de várias instituições e voluntários, num projecto que permitiu «superar todas as expectativas».
Depois de ser considerada como uma praga para os pomares de laranjeiras no século XIX, a ave sofreu, ao longo de várias décadas, a sua maior ameaça: a destruição do seu habitat, que remeteu a espécie para a classificação de «criticamente ameaçada». Designado cientificamente por Pyrrhula murina, o priolo vive na Serra da Tronqueira e no Pico da Vara, no Leste da maior ilha açoriana, e, por não existir em nenhum outro local no mundo, é considerado como um «valioso elemento da biodiversidade planetária».
Com um peso médio de 30 gramas e cerca de 16 centímetros de comprimento, a ave possui um bico negro e forte, uma cor acinzentada e cauda preta, sendo reconhecido à distância pelo seu pio característico.
«Os dados que temos já mostram que aquele declínio que se vinha a verificar nas últimas dezenas de anos parece ter desaparecido e até se verificou uma recuperação nos últimos anos», salientou o coordenador do LIFE Priolo.
Indicadores baseados em dados estatísticos, dada a impossibilidade de contagem individual de uma ave que vive em meio selvagem, apontam já para a existência de 500 a 600 priolos na zona do seu habitat natural.
Depois de terem sido contabilizados, na fase inicial do projecto, apenas 300 priolos, Joaquim Teodósio destacou outro indicador recente que indicia que a salvação da espécie pode estar assegurada: pela primeira vez, a ave foi vista em zonas onde não era detectada há dezenas de anos.
Isto depois do esforço feito na recuperação do habitat do priolo, condição essencial para a sua sobrevivência e alimentação, uma vez que plantas como a uva da serra ou azevinho estavam, também, a desaparecer.
Diário Digital / Lusa