31 de outubro de 2006

O jogo de Pau Canário






O jogo de Pau Canário
Uma Dinastia, Três séculos, uma Tradição.

A arte da esgrima com pau é uma das manifestações mais notáveis da cultura popular das Canárias. Tem sido conservada desde os primeiros moradores e segue sendo praticado nessas ilhas.
Essa disciplina milenar, mistura de combate e de folclore, herança duma cultura aborígine Guanche, tem se tornado um verdadeiro símbolo da identidade do povo canário. Uma arte, uma prática lúdica e desportiva ainda minoritária, mas em crescimento e com uma bela promessa de futuro, um exemplo vivo do empenho desse povo para manter suas tradições.
Numerosas crônicas da época da conquista das Canárias ao redor dos anos 1400 mencionam a grande habilidade dos Guanches no manejo do pau como arma de guerra, de defesa e de ataque. Paus, que curtidos ao fogo, deixaram uma profunda lembrança de sangue nas tropas espanholas quem tentaram colonizá-los. Depois da conquista e a anexação ao reino de Castela, o uso do pau desapareceu durante um tempo por causa da interdição imposta aos moradores pelas cidades.
No entanto, os camponeses continuaram a usá-lo fora dos povoados como meio de defesa pessoal para resolver conflitos de propriedade, de rebanho e de zona de pasto, ou ainda para punir alguém.
Porque nesta época, era costume que os jovens de cada família se enfrentassem entre si para demostrar sua habilidade com o pau em festas populares celebradas nos povoados. Muitas vezes, eles enfrentavam-se em verdadeiros duelos procedentes de brigas entre famílias. Ainda que os combates pudessem acontecer em qualquer lugar e momento, muitas vezes parece que as festas fossem o momento e o lugar preferidos para uma simples provocação, para demostrar sua qualidade de homem ou para conquistar uma mulher. É verdade que para a maioria desses homens, se não houvesse combate, não era uma verdadeira festa.
O tempo passou e os camponeses conservaram secretamente sua arte dentro de suas famílias. Os avôs transmitirão essa sabedoria a seus netos e estes, por sua vez, a transmitiram a seus filhos, isto durante mais de quatro séculos. Marino Acosta Armas herdou esta prática de seus ancestrais quem eram também jogadores exímios.
Sua família esteve sempre em contato com todas as tradições com jeito canário: a luta, os combates de cães e de galos, e, claro, a arte de combater com o pau. O tempo fez o resto, fazendo de Marino o principal representante do estilo Acosta tradicional de jogo de Pau de Tenerife, considerado como um dos mais rápidos e dos mais duros.
Cada clã familiar desenvolveu um jeito particular de usar o pau. Alguns estavam especializados em distância longa, outros em distancia curta, e outros ainda empregavam o pau como sistema de defesa contra as armas brancas. Hoje em dia vários estilos são identificados: Deniz, Verga, Morales, Garafiáno, Vidal, Conejero, Quintero e o estilo Acosta. Cada um deles apresenta diferenças técnicas que podem ser apreciadas com um só olhar. Essa riqueza técnica, de diversidade de escolas e estilos, faz parte da grandeza da cultura marcial das Canárias.

O Pau Canário é uma arte de cavalheiros, que exalta os valores humanos. Praticá-lo e mantê-lo vivo, não só nos permite ser mais Canários, mas também nos tornar homens melhores.

Jan Kubelik plays "Zephyr" by Hubay