7 de abril de 2008

Associação quer profissão de musicoterapeuta reconhecida


Fundada em 1996 por um grupo de profissionais e sócios da Associação Portuguesa de Educação Musical, que fizeram parte de um movimento que trouxe a Portugal musicoterapeutas estrangeiros para dar seminários, a Associação Portuguesa de Musicoterapeutas (APM) quer promover a organização e o desenvolvimento da musicoterapia como disciplina de conhecimento e como profissão.
Em Portugal esta actividade é exercida por cinco ou seis pessoas que são reconhecidos como musicoterapeutas no estrangeiro, mas não internamente, pois ainda não foi classificada como profissão, sendo apenas uma especialização, pelo que não existem dados sobre o número de pessoas que estão a exercer neste domínio.
«Como agora já existem cursos de especialização em universidades portuguesas e com o esforço da APM no sentido de que a profissão seja reconhecida, pode ser que consigamos em breve ter estatísticas fidedignas», explicou em entrevista à agência Lusa a presidente da APM e vice-presidente da Confederação Europeia de Musicoterapia, Teresa Leite.
Em 1990 surgiu no Funchal um curso de musicoterapia, promovido pela secretaria Regional de Educação Especial, que era dado por uma musicoterapeuta francesa.
«Foi só a partir do ano 2000 que surgiram alguns cursos de especialização. Primeiro na Faculdade de Motricidade Humana, que já não existe, e depois na Universidade Lusíada, em Lisboa, e na Escola Superior de Educação no Porto», disse.Os cursos na Universidade Lusíada (no qual Teresa Leite está envolvida) e na Escola Superior de Educação, no Porto, têm uma duração de dois anos em regime de pós-graduação e pós-laboral.
Para fazer esta especialização, explicou Teresa Leite, é necessário ter uma licenciatura em psicologia, educação, educação musical, enfermagem ou serviço social, sendo as pessoas depois seleccionadas por currículo.
Teresa Leite contou que actualmente apenas cinco ou seis pessoas exercem musicoterapia em Portugal.«São uns cinco ou seis que são reconhecidos no estrangeiro mas, se juntarmos os que já terminaram as especializações em Lisboa e no Porto e que acho que são válidos devem ser mais de 20», disse.
A presidente da APM adiantou que 16 pessoas que terminaram as especializações em Lisboa e no Porto no ano passado fizeram estágios em instituições como o Hospital de Santa Maria, na Casa da Criança, em Tires, em centros de idosos e no gabinete do Apoio ao Cidadão Autista, entre outros.
De acordo com Teresa Leite, são poucos os musicoterapeutas a receber dinheiro pelo seu trabalho. «Há algumas instituições que já investem nisto e que pagam aos técnicos que já lá trabalhavam e que fizeram as formações, mas são poucos», disse.
Para Teresa Leite, esta situação seria diferente com a certificação dos cursos e o reconhecimento da profissão. «Ainda não há uma carteira profissional de musicoterapeuta, não está classificada como profissão, estamos a tentar», frisou, referindo que talvez possa ser possível dentro de um a dois anos. «A APM está a estabelecer e a implementar critérios de reconhecimento da prática clínica da musicoterapia e respectiva formação profissional em Portugal e só depois iremos contactar o Instituto do Desenvolvimento e Inspecção das Condições de Trabalho para ver o que podemos fazer para que a profissão seja classificada», disse.
No entender de Teresa Leite, é urgente que a profissão seja reconhecida pois «há muita gente a dizer que é musicoterapeuta e está a vender serviços no privado sem ter formação para o fazer». «É preciso esclarecer as pessoas sobre o que é a musicoterapia e é por isso que a APM faz encontros anuais, workshops, seminários e cursos de sensibilização», explicou a responsável, adiantando que os profissionais e as pessoas em geral podem obter mais informações através da página na Internet http://www.apm.pt/ .
Na opinião de Teresa Leite, a musicoterapia é alvo de cepticismo por parte das pessoas em geral e da comunidade médica.
«Sofremos com a má-prática. A classe médica acha que nós somos meia dúzia de malucos que nos propomos curar pessoas com tambores», lamentou.«Digo sempre aos estagiários que eles ainda estão a aprender, mas no local onde estão a estagiar são pioneiros e por isso têm a obrigação de explicar aos outros o que é a musicoterapia», disse.
Diário Digital / Lusa

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