20 de abril de 2011

Maré Negra: Crise ambiental perdura no Golfo do México



Um ano depois da catástrofe ambiental no Golfo do México os restos de ‘crude’ são quase invisíveis para os olhos menos treinados, mas muitos ambientalistas, cientistas e habitantes das zonas afetados garantem que a crise está para durar.

A explosão da plataforma "Deepwater Horizon" ao largo da costa da Louisiana, a 20 de abril de 2010, provocou onze mortes, libertou cerca de 4,9 milhões de barris de crude para o Golfo do México, destruiu um número indeterminado de habitats marinhos e arruinou a existência de milhares de pessoas.

Um número incalculável de peixes e crustáceos, milhares de aves e centenas de tartarugas marinhas e golfinhos morreram devido ao derrame, que também afetou mais de 100 quilómetros de manguezal, ecossistema costeiro húmido, destaca o Washington Post.

Apesar de vários cientistas reconhecerem que as mais terríveis previsões não chegaram a concretizar-se, doze meses depois do acidente – em que foram publicados dezenas de relatórios e recolhidas milhares de amostras – a verdadeira extensão dos danos ambientais continua a ser uma incógnita, e deverá continuar a sê-lo nos próximos anos.

"Não é tão mau como poderia ter sido, mas ainda estamos a apurar o impacto total que o derrame teve na saúde do Golfo", afirmou Jane Luchenco, responsável da Administração Nacional Atmosférica e Oceânica, segundo a qual a maior parte do crude foi recuperada do mar ou se dispersou.

Fatores naturais, como a ação de micro-organismos, terão facilitado a degradação do crude, que ocorreu de forma muito mais rápida do que era esperado, destacam vários especialistas.

Contudo, a maioria das previsões científicas refere que a batalha para salvar o ecossistema marinho e costeiro da zona afetada deverá continuar durante décadas. "Há ainda uma enorme quantidade de petróleo que ninguém sabe bem onde está" garante Ian R. McDonald, oceanógrafo da Universidade Estadual da Florida.

Sem querer minimizar as consequências do derrame, Carl Safina, do Blue Ocean Institute, organização especializada em saúde marinha, também considera que "podia ter sido pior".

"Ainda restam muitas perguntas, mas já estamos numa fase mais adiantada do que se julgava que fosse possível", disse à revista Time o especialista, que assistiu à maré negra provocada pelo Exxon Valdez no litoral do Alaska, em 1989.

Doze meses depois do acidente, a maioria das praias afetadas foram abertas ao turismo e os rastos do crude são praticamente invisíveis. O Golfo foi quase completamente reaberto à pesca, apenas uma zona de cerca de 2.500 quilómetros quadrados continua interditada à pesca comercial ou de lazer.

Os efeitos económicos, porém, continuam a sentir-se na região.
A queda do turismo e as dificuldades de pescadores, criadores de ostras e outras pessoas que dependem do oceano persistem, e agravam a crise económica que ainda se sente na zona, onde mais 130 mil empresários e pescadores ainda não receberam as suas compensações por perda de atividade.

A petrolífera britânica BP, que gastou cerca de 40 mil milhões de dólares (28 mil milhões de euros) na mitigação dos efeitos ambientais do derrame e na indemnização das populações afetadas, considera o assunto resolvido e prepara-se para explorar novos poços no Golfo. Diário Digital / Lusa

Jan Kubelik plays "Zephyr" by Hubay