16 de setembro de 2019

Do livro ao filme: 'O Pintassilgo' é uma saga de muitas emoções

Wook.pt - O Pintassilgo

Há uma espécie de tradição perversa que garante que quanto mais um romance é brilhante, mais desastrado será o filme que dele se possa extrair... Enfim, o simples bom senso ensina-nos que podemos encontrar os exemplos mais contrastados entre as atribuladas relações literatura/cinema. Mas é um facto que um romance como O Pintassilgo (2014), obra-prima da americana Donna Tartt (entre nós publicado pela Editorial Presença), parece colocar a fasquia ainda mais alta - dir-se-ia um livro "impossível" de transformar em filme...

Pois bem, o mínimo que se pode dizer do filme O Pintassilgo, assinado pelo irlandês John Crowley, é que há nele o rigor de uma visão cuja agilidade criativa começa numa metódica fidelidade à complexidade dramática, simbólica e estrutural do livro.

Haverá um fôlego épico na escrita de Donna Tartt (a extensão não é tudo, mas convém não esquecer que são mais de 800 páginas...) que dificilmente passa para uma duração cinematográfica de cerca de duas horas e meia. É verdade. Mas não é menos verdade que o notável argumento, assinado por Peter Straughan, por certo consciente desse problema, arrisca de forma contundente, inclusive modificando o regime temporal do romance, criando uma duração que é, em tudo e por tudo, especificamente cinematográfica.

A fascinante densidade dos factos narrados aconselha a que não se tente resumir as peripécias da vida de Theodore Becker, interpretado por Oakes Fegley e Ansel Elgort (respetivamente na adolescência e na idade adulta). Digamos apenas que O Pintassilgo a que se refere o título é um quadro da idade de ouro da pintura dos Países Baixos, da autoria de Carel Fabritius - Fabritius pintou-o em 1654, ano em que viria a morrer. Um dia, Becker está de visita a um museu que expõe o quadro, acabando por ser um dos visitantes atingido por uma violenta explosão terrorista... Tanto basta para que O Pintassilgo, a partir da memória obsessiva desses momentos (a explosão dá-se quando a mãe o inicia nas maravilhas do trabalho de Fabritius), seja a narrativa de um assombramento sem fim.

Jan Kubelik plays "Zephyr" by Hubay