20 de setembro de 2006

Uma cotovia

Num extenso olival
Verdes ramos despontam
Anunciando farta colheita
De azeitona preta "bical".

Um som alegre, palrante
Invande o frondoso arvoredo
Que um absorto passeante
Descreve com enredo.

Eis senão quando, uma simpática cotovia

Se aproxima de uma vigia
Onde um menino havia
E oferece a sua companhia
Para um passeio na pradaria.

Estremunhado com a luz do dia
Aceita contudo o que ouvia
E aposta na sabedoria
Dessa alegre melodia

Correndo, desce a escadaria
E à entrada da portaria
Esperava-o a cotovia
Com um sorriso de alegria.

E lado a lado percorriam
Debaixo do sol do meio-dia
A beleza que a natureza cria.

Parcelas de pousio
Alternadas com as de regadio
Num constante desafio.

Um campo de trigo amadurecia
Para regalo de quem o via
Numa planície que se despia
Dos grãos que a terra comia.

Tenho sede, exclama o menino!
Eu também, acena a cotovia!

E o sol do meio-dia ...

Atento à cortesia
Lança gotas de magia
Que enchem uma enorme pia
Toda ela em cantaria.

O tempo corre
E o vento assobia

O sol vai descendo
E as borboletas recolhendo
Na vila de Pavia.

Um tronco de azinho
Suculento de seiva
Vai aquecendo a lareira
De uma casa na ladeira.

O dia despede-se
Como o fogo a murmurar
Palavras de embalar.

Agasalha-te menino
Boa-noite cotovia.

Maria Rua
20 de Setembro de 2006

Jan Kubelik plays "Zephyr" by Hubay