26 de março de 2007

Pomba faz noticia no Brasil





Cidade Ninho no semáforo
Pomba da espécie que criou polêmica na cidade escolheu equipamento na Ribeirânia para o nascimento dos filhotes

Uma cena inusitada no cruzamento da avenida Leão 13 com a rua Argeu Fuliotto, na Ribeirânia. Uma pomba da espécie zenaida auriculata, a mesma que habita em bando a Praça das Bandeiras e causa polêmica há anos entre comerciantes, prefeitura, entidades de defesa da vida animal e membros da Catedral Metropolitana, fez o ninho num semáforo. Alheia ao trânsito intenso, ao barulho dos automóveis e ao falatório de quem passa pelo local, ela choca os ovos, tranqüilamente, praticamente encostada à luz vermelha do equipamento. A cada vez que a lâmpada acende, ela aparece, discretamente, chamando a atenção apenas dos olhares mais atentos. A bióloga Ana Carla Aquino, especialista em ornitologia - ciência que analisa o comportamento dos pássaros -, afirma que a ave, também é conhecida como avoante, pomba-de-bando ou amargosa, escolheu o semáforo para botar porque se sente segura. "Mesmo que seja num lugar movimentado da cidade, o equipamento tem uma capa que evita exposição à chuva e ao sol forte. Além disso, o semáforo não balança. Com isso, não há risco de queda dos ovos nem dos futuros filhotes", avalia. Ana Carla explica, ainda, que a luz vermelha não incomoda a pomba. "Ela está muito à vontade. A lâmpada está servindo como um abajur", brinca Ana. Nem a presença da reportagem espanta a zenaida. Ela passa praticamente o tempo todo resguardando o ninho. E deve permanecer ali por mais um bom tempo. Segundo a ornitóloga, os filhotes desta espécie de ave demoram de 18 a 20 dias para nascer após a postura dos ovos."Depois do nascimento, o semáforo ainda vai ficar ocupado por 15 ou 20 dias, até que os filhotes aprendam a voar", diz Ana.A bióloga já trabalhou no Bosque Municipal Fábio Barreto e hoje presta serviços para a USP-Ribeirão. Ela conta que a zenaida bota dois ovos a cada dois meses. Sua presença na área urbana da região é motivada pela destruição de seu habitat natural. "Estes bichos gostam muito de áreas abertas, como cerrado e bordas de mata.Com desmatamento, elas vêm para as cidades. Em Ribeirão, encontraram condições de sobrevivência porque temos muitos canaviais, que são áreas abertas", relata. "E, com tempo, estas aves se habituaram, totalmente, a conviver com gente". A alimentação é a base de pequenos grãos e sementes, elementos abundantes na região. "Com isso, elas vãos e multiplicando e se espalhando por diversos pontos da cidade".E complementa: "Enquanto o ambiente natural destes animais for sendo destruído, a sua presença no meio urbano será cada vez mais comum. Daqui a uns dias, vamos ver pessoas andando com ninhos nas cabeças", ironiza.
Aves são motivo de polêmica no centro
As amargosas têm dado muita dor-de-cabeça aos profissionais que trabalham com temas ligados ao meio ambiente. Na Praça da Catedral, elas são milhares. Há pelo menos uma década, viraram motivo de polêmica entre comerciantes que trabalham no local - que se sentem incomodados com as aves -, a AVA (Associação Vida Animal), que defende a sobrevivência delas, o poder público, que busca um meio de solucionar o problema, e membros da igreja. No ano passado, o padre Francisco Jaber ameaçou cortar dezenas de árvores da praça para espantar a zenaida. Em meados do ano passado, o escritório regional do Ibama (Instituto Brasileiro de Preservação do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais) começou um trabalho para tentar minimizar a questão, que envolve contagem dos pombos e aplicação de um repelente para reduzir o bando.

de IGOR SAVENHAGO Gazeta de Ribeirão

Segunda-Feira, 26 de Março de 2007

Jan Kubelik plays "Zephyr" by Hubay