22 de abril de 2007

Um domingo











Do mundo nada sabiam a não ser traduzir mimo, seleccionar sementes e ingeri-las de modo próprio. As progenitoras para trás ficaram, em merecido descanso, após umas semanas na árdua tarefa de cuidarem dos seus rebentos. Confesso, modéstia à parte, que são uns belos exemplares tanto no porte, como na cor e elegância das suas patas esguias e negras de alguns …

Mas, foi numa tarde estival de domingo, que este colectivo de jovens canários tiveram o seu primeiro contacto directo com o sol. De bicos abertos pulavam de poleiro em poleiro nitidamente alterados com a temperatura exterior e com os ruídos mais agudos deste mundo que mal conhecem. No entanto, as novas sensações não se ficam por aqui. Ora vejam: umas tinas de plástico amarelo e uma banheira “profissional de porta”, com água temperada de uma torneira de jardim, apareceram por magia, na gaiola que lhes serve tanto de recreio como de dormitório. Surpresos e desconfiados, mantiveram-se quietos por uns instantes; mas os objectos não se moveram nem tão pouco emitiram sons. Surge então o mais expedito que decide aproximar-se do dito rectângulo amarelo e olha – e molha o bico – e molha as patas - e finalmente o seu instinto diz-lhe para entrar. E lá vai mais um e outro e outro… Só que o Einstein (Pedro, espero que concordes com esta comparação) aguarda, tal como qualquer cientista que se preze, que a experiência dê resultados. Enquanto os seus amiguinhos se secavam espanejando as penas como se de uma dança se tratasse, e deliciando-se com a nova aventura, o nosso amigo, com ar confiante, exibindo a sua mancha negra no pescoço de que muito se orgulha, avança em passo lento para um banho privado. E oferece-nos o espectáculo de uma dança na água. Ao terminar, olha para trás e pensa "fica por investigar aquele outro objecto estranho".

Seguiu-se o lanche, inevitavelmente muito saboreado. Refrescados, e lanchados, regressam aos seus aposentos conformados com um concerto para piano de Astor Piazzolla que a Antena 2 difundia. Mostram-se agradados, sem dúvida, embora não se tivessem manifestado concretamente. Decidiu então o Pedro apresentar-lhes uma sinfonia de sinos, tendo como pano de fundo a orquestração de um fado de Lisboa. Ora aí sim, os nossos amigos canários demonstraram a sua alegria e juventude alinhando nesta forma de comunicação espontânea, seja ela fadista, cigana, ou rural.

Quietos e estáticos ficaram, quando a sessão terminou.

Maria Rua

Jan Kubelik plays "Zephyr" by Hubay