31 de julho de 2008

Festival Andanças - Carvalhais - S. Pedro do Sul




Entre as novidades deste ano salienta-se uma oficina de danças portuguesas (as Pauliteiras de Miranda do Douro - a prova de que as tradições estão vivas e em movimento), um estilo americano (lindy hop) e outro cabo-verdiano (canizade). Lindy hop é o ritmo que originou o swing e posteriormente o rock. É a famosa crazy dance dos anos 30, nascida no Harlem, o mais conhecido bairro negro de Nova Iorque. Foi a partir do lindy hop e respectiva riqueza coreográfica, permeada de loucos passos aéreos e solos, que a partir dos anos 50 surgiram diferentes estilos de rock'n'roll e swing, como o jive, o rock acrobático e outras variações.
Quanto à dança cabo-verdiana, muito popular no Andanças, é normalmente associada aos ritmos musicais mais populares, como a morna, a coladeira, o funaná, o batuque, o colá e o talaia-baixo. Mas persiste, sobretudo nas ilhas de Boa Vista, Santo Antão, Brava e São Nicolau, a tradição de danças como o xotice, a contradança, a mazurca, a polca e o canizade. Esta última estará presente no Andanças este ano pela primeira vez com uma curiosidade única: os dançantes não devem ser reconhecidos, razão pela qual colocam uma máscara enquanto dançam. O desafio está em levar máscara ou fabricar uma no Andanças antes de fazer esta oficina.Quanto aos bailes, o festival continua a explorar a incrível diversidade de danças europeias: húngaras, balcânicas, bascas, ciganas, bálticas, belgas, do poitou, italianas, galegas, catalãs, mediterrânicas, etc. Vale ainda a pena prestar atenção aos inúmeros instrumentos pouco comuns que serão ouvidos no Andanças, como o kannel (saltério báltico tocado pelos Viis, Estónia) ou o Trikitixa (acordeão diatónico tocado pelos Patxi Eta Konpania, País Basco). Para além de alimentar a curiosidade pela diversidade, o Andanças procura ainda lembrar que a música popular (também) é sinónima de identidade e muitas vezes de sobrevivência: para minorias étnicas como os Chango, que vivem no norte da Roménia, a participação dos Észtenas (Hungria) no Andanças pode ser a única maneira que possuem de nos fazerem saber que existem. Em relação a grupos portugueses, alguns nascidos em anteriores edições do Andanças, muitos irão ao Festival apresentar os seus novos projectos discográficos - importa estar atento e ficar a par das novas tendências em “música de dança”.
O Andanças encerrará com um baile abrilhantado pela Banda Filarmónica de Castro Verde, após um desfile por onde esvoaçará um pássaro gigante (uma colaboração do Teatro Acert). Golpe de Asa é o nome de uma produção teatral de rua que consubstancia muita da magia do Andanças - o imaginário popular complementado por um imaginário contemporâneo para veicular o desejo de que a relação humana com a natureza seja uma relação de esperança num futuro centrado na paz, na poupança de recursos, no trabalho comunitário, na igualdade e na diversidade. Central à produção, estará uma estrutura em forma de pássaro, movida a energias limpas: um pequeno motor eléctrico e muita mecânica fazem movimentar todas as partes desta marioneta gigante, tal como os 1000 voluntários do Andanças fazem rodar o festival.
in destake

Jan Kubelik plays "Zephyr" by Hubay