
Marracuene, uma pequena vila a poucos quilómetros de Maputo, vive desde hoje dias diferentes. Palavras como «acção», «silêncio» ou «corta» vão ser das mais ouvidas durante seis semanas, nas filmagens de «O Último Voo do Flamingo».

A agitação começou às sete horas de quarta-feira, quando a equipa de filmagens, dirigida pelo realizador moçambicano João Ribeiro, cortou uma rua com fitas brancas e vermelhas e começou a filmar a história de misteriosas mortes de soldados das Nações Unidas, que o escritor também moçambicano Mia Couto conta no livro «O último voo do flamingo».
A história de Mia Couto passa-se em Tizangara, uma pequena vila, como Marracuene, do interior de Moçambique, poucos meses depois do fim da guerra civil, onde cinco misteriosas explosões matam outros tantos soldados da missão de paz da ONU, restando deles apenas o pénis e os capacetes azuis É daí que parte Mia Couto para contar depois a história do oficial de investigação, o italiano Massimo Risi, de Joaquim, o tradutor que na verdade não sabe línguas, de Temporina, uma mulher velha de corpo jovem, ou de Ana Deus queira, a prostituta da vila. Mas também a história de lutas entre o poder local e tradicional, entre a sociedade ocidental e africana, de mistérios e crenças.
Em Marracuene, hoje, uma pequena multidão assistia atentamente aos primeiros momentos dessa história, a maior parte jovens, sorrisos envergonhados, contentes com a novidade na terra e alguns ainda sem saber o que viam. «Pensei que estavam a gravar algum anúncio para a televisão».
E João Ribeiro mais atento ainda, boné e auscultadores, gritando ordens, mandando repetir cenas, dirigindo uma equipa que ao todo é composta por meia centena de pessoas, sem contar com os figurantes É sempre difícil adaptar uma obra literária ao cinema», conta à Lusa num intervalo, enquanto se mudam carris (onde corre a câmara de filmar) e se colocam os actores nos lugares certos.
E justifica: vem de um género para outro e essa mudança de género tem as suas consequências.
«Gosto das imagens que Mia Couto deixa passar através do texto. Este é o meu quarto filme com base em textos dele.
O texto do Mia é muito descritivo, uma pessoa lê e vê as imagens. Mas há factores como o som, a linguagem, as dimensões... temos de fazer opções e eu não posso e não tenho tempo nem meios para fazer tudo o que está no livro.
Por isso fiz as minhas opções, o público dirá se são boas», conta.
João Ribeiro fez até agora curtas-metragens e «O último voo do flamingo» é o primeiro grande filme, que quer ver nas salas de cinema antes do próximo Natal.
João Ribeiro fez até agora curtas-metragens e «O último voo do flamingo» é o primeiro grande filme, que quer ver nas salas de cinema antes do próximo Natal.
Mas há nove anos, diz, que tem o filme na cabeça, acrescentando depois que em Moçambique não é fácil fazer cinema, porque não se conseguem fundos, além de que «não há regra, nem lei, que facilite a vida» aos cineastas, «antes pelo contrário».
Com apoios essencialmente portugueses, argumento e produção de João Ribeiro e Gonçalo Galvão Teles (Fado Filmes), o filme tem como actores principais Carlo D´Ursi (italiano), Eliot Alex, Gilberto Mendes e Cândida Bila (moçambicanos), Cláudia Semedo (Portugal) e Adriana Alves (Brasil).
Hoje nem todos andavam por Marracuene, onde o dia começou com chuva e o sol nem apareceu. João terminou as filmagens ao início da tarde, embora, avisa, vá haver dias em que se trabalhará noite dentro.
Mas a festa em Marracuene, «uma vila parada no tempo, com todas as matizes de Tizangara», começou sem eles. Porque não é todos os dias que se assiste em directo à realização de um filme de um milhão de euros.
Com apoios essencialmente portugueses, argumento e produção de João Ribeiro e Gonçalo Galvão Teles (Fado Filmes), o filme tem como actores principais Carlo D´Ursi (italiano), Eliot Alex, Gilberto Mendes e Cândida Bila (moçambicanos), Cláudia Semedo (Portugal) e Adriana Alves (Brasil).
Hoje nem todos andavam por Marracuene, onde o dia começou com chuva e o sol nem apareceu. João terminou as filmagens ao início da tarde, embora, avisa, vá haver dias em que se trabalhará noite dentro.
Mas a festa em Marracuene, «uma vila parada no tempo, com todas as matizes de Tizangara», começou sem eles. Porque não é todos os dias que se assiste em directo à realização de um filme de um milhão de euros.