25 de junho de 2009

Almada Velha: Temporada «Santos Pop» termina este sábado


O encerramento da temporada «Santos Pop», no bairro de Almada Velha, em Almada, vai ficar marcado sábado pela proposta da associação Piajio, de «mergulho», entre as 17:00 e as 19:00, em «histórias reais, vivas e singulares».
«O bairro de Almada Velha, como terreno dramatúrgico, muito marcado pelo associativismo, pela poesia e pela columbofilia, é fonte de inspiração para nós», explica Afonso Guerreiro, director da associação cultural Piajio, que desde o início do mês promove o «mergulho».
«Por isso, e pelo esquecimento a que são muitas vezes votados estes elementos, enquadrámo-los num cenário para que o bairro ganhasse vida e passasse a ser o centro do mundo», diz.
O «mergulho no bairro» promete uma incursão nos meandros da centenária Incrível Almadense e uma visita guiada aos pombais de Almada.
Afonso Guerreiro está certo que esta iniciativa «vai agradar a todas as idades».
O ponto de partida é o Incrível Club, na rua Capitão Leitão, e a ginja, «oferta da casa».
Armando Guilherme, lisboeta, veio puxado por Nuno Quá, almadense que «conhece os cantos à casa» e garante que «associativismo como aqui há [em Almada] não se vê noutro lado».
Os dois jovens vêm «pelo sítio e pelas histórias».
Foi no cinema da Incrível, hoje inativo, que Marina Laureano viu, pela primeira vez, o clássico «Música no Coração».
Veio ao «mergulho» para «conhecer por dentro aquilo que só via por fora»: «a vida da Incrível, baluarte do associativismo em Almada, e as relações entre das pessoas com o bairro».
«Este bairro também é meu», afirma Túlia Marques. «Quero levar para casa o convívio entre o velho da história e o revitalizado. Acho importante reflectir sobre a importância do associativismo, que foi sempre tão forte e luta hoje pela sobrevivência», frisa.
Carlos Alberto Rosado e Henrique Santos representam duas gerações de históricos da Sociedade Filarmónica Incrível Almadense e vão guiar a visita que se fará das suas memórias.
primeiro começou a trabalhar aqui com oito anos: «trabalhava de graça, a dar copos de água aos espectadores do cinema». Acabou por ser dirigente: «Era um orgulho, era subir de posto social», conta.
Henrique Santos também chegou a fazer parte da direcção da Sociedade, mas antes disso, garante, «dançou com muitas moças e beijou outras tantas, no mítico segundo balcão do cinema, junto ao tecto e com pouca visibilidade»: «Alguém acredita que íamos para ver os filmes?», brinca.
«A Incrível nasce, em 1848, como uma luta política acesa. E assim continua. Aqui travou-se uma cerrada oposição ao Estado Novo: houve livros escondidos, reuniões, perseguições», contam.
A visita segue para a sala de espectáculos e continua pelos corredores labirínticos da Sociedade, passando pelo salão de baile e pelo ginásio.
«Foi para a sala de espectáculos que fugiu da PIDE, do palco do salão de baile, por estes corredores exíguos, repletos de escadas e de portas, o Zeca Afonso, depois de um concerto, em 1969», recordam.
«Há motivos para ter esperança no associativismo. A vitalidade dos que integram a Incrível, novos e velhos, faz-lhe juz ao nome», remata Túlia Marques
.
O «mergulho» segue até aos pombais do Clube Columbófilo os Águias, onde moram centenas de pombos-correio.
O último mergulho no bairro acontece sábado, dia 27, das 17:00 às 19:00.
A visita tem um preço simbólico, deixado ao critério de cada carteira.
Diário Digital /Lusa

Jan Kubelik plays "Zephyr" by Hubay