31 de março de 2009

Lisboa: Dono de casa de pasto conquista distinção municipal



Ao longo do tempo, a «Adega da Tia Matilde» foi crescendo para espaços contíguos, chegando aos 150 lugares de capacidade. Ali trabalham 26 funcionários, alguns há quatro décadas.
Em mais de 70 anos, Emílio Andrade viu acontecer um pouco de tudo, mas garante que nunca viu uma crise como a que o país atravessa actualmente.
Não esquece momentos como aqueles em que percorria Lisboa de bicicleta para ir buscar alimentos aos armazéns da Baixa durante o racionamento na Segunda Guerra Mundial, ou de levar «o comer» aos presos políticos que eram levados para a esquadra do Rêgo, próxima do restaurante, e aos trabalhadores nas
obras da zona.
Tem um «filho adoptivo», Eusébio da Silva Ferreira, que almoça no restaurante quase todos os dias e admite ter uma «doença» pelo Benfica, de que é o sócio número 68, desde Janeiro de 1934.

As paredes do restaurante exibem caricaturas de frequentadores, muitos do mundo do desporto, mas também políticos e jornalistas, que ali encontram pratos típicos portugueses como mãozinhas de vitela com grão, bacalhau à Gomes de Sá, feijoada à Transmontana, cozido à portuguesa, arroz de cabidela, açorda de sável, cabrito assado, arroz de lampreia ou de sarrabulho.
«São sabores que puxam o cliente para cá», acredita o «senhor Emílio», como é conhecido. Uns, mais do que clientes, são também amigos, compadres, afilhados. Na próxima quinta-feira, terá um dia diferente. Além de soprar 88 velas no bolo de aniversário, vai receber das mãos do presidente da Câmara de Lisboa, António Costa, a Medalha Municipal de Mérito, Grau Ouro, atribuída por unanimidade pelo executivo camarário.
Para a autarquia da capital, o «senhor Emílio» é «um exemplo de dedicação e disponibilidade para todos os que tentam promover Lisboa, através da gastronomia tradicional, aquela que deve ser uma imagem de marca da cidade».
A «Adega da Tia Matilde» é «uma referência incontornável da gastronomia portuguesa» em Lisboa, «alvo de vastos elogios por gerações de clientes e merecendo a unanimidade da crítica gastronómica nacional».
A distinção, considera, não é para si. Trata-se da «consagração a uma causa».
Apesar da idade, o «senhor Emílio» acredita que ainda não chegou a altura de se reformar. «Ainda não me sinto assim muito cansado nem com vontade de virar as costas».
Diário Digital / Lusa

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